Resenha #553: Pessoas Normais - Sally Rooney (Companhia das Letras)

Título: Pessoas Normais
Título Original: Normal People
Autor: Sally Rooney
Série: ---
Páginas: 264
Ano: 2019
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: Na escola, no interior da Irlanda, Connell e Marianne fingem não se conhecer. Ele é a estrela do time de futebol, ela é solitária e preza por sua privacidade. Mas a mãe de Connell trabalha como empregada na casa dos pais de Marianne, e quando o garoto vai buscar a mãe depois do expediente, uma conexão estranha e indelével cresce entre os dois adolescentes – contudo, um deles está determinado a esconder a relação.
Um ano depois, ambos estão na universidade, em Dublin. Marianne encontrou seu lugar em um novo mundo enquanto Connell fica à margem, tímido e inseguro. Ao longo dos anos da graduação, os dois permanecem próximos, como linhas que se encontram e separam conforme as oportunidades da vida. Porém, enquanto Marianne se embrenha em um espiral de autodestruição e Connell começa a duvidar do sentido de suas escolhas, eles precisam entender até que ponto estão dispostos a ir para salvar um ao outro. Uma história de amor entre duas pessoas que tentam ficar separadas, mas descobrem que isso pode ser mais difícil do que tinham imaginado.

Alerta de gatilho para depressão, assédio, relacionamentos tóxicos e abusivos

Decidi ler Pessoas Normais por causa da adaptação feita pela BBC. Apesar de muito achar que não iria me agradar, até que foi uma boa leitura. Mas nunca uma terapia faria tão bem para todos os personagens dessa história.

Vamos acompanhar Connell e Marianne, desde o início do seu relacionamento na época da escola até meados da faculdade. Os dois são de uma cidade pequena no interior da Irlanda. Na escola, Connell é o garoto popular e Marianne, a estranha; na faculdade esses papeis se invertem.

Durante um pouco menos de 300 páginas vamos acompanhar um relacionamento tóxico e simbiótico, tanto da parte de Connell quanto Marianne. Os dois se tornam ótimos amigos, mas seja quando isso evolui para algo mais íntimo ou separados, de alguma forma sempre um acaba machucando o outro. A falta de comunicação entre os dois, principalmente da parte de Connell por conta da sua timidez, gera várias idas e vindas de um relacionamento que nem eles saberiam classificar. Era namoro? Só pega? Amizade colorida?

Os próprios Connell e Marianne querem tanto ser "normais" que acabam se anulando. Os dois são de muita baixa autoestima, fora o sentimento de negatividade e autodepreciação. Não sei bem quem mais precisa de uma terapia ali; Marianne, visto que ela acha que merece os abusos e ataques verbais que sofre, ou Connell, cujas atitudes beiram um pouco a alguém depressivo. Como vi em algumas resenhas, eles não fazem bem um para o outro juntos, mas separados isso piora e muito.

Quanto às pessoas que rodeavam Connell e Marianne, acho que a única pessoa normal era a mãe de Connell, Lorraine. Tanto os colegas de escola de Connell e Marianne quanto seus colegas de faculdade possuiam tendências narcisistas e/ou tóxicas. A família de Marianne, coitada da garota.. O irmão possuía problemas para controlar sua raiva e a mãe era super negligente, além de ambos sempre colocarem a garota para baixo.

A escrita fluída da autora faz com que a leitura não seja maçante, apesar de vários nadas acontecer no livro e sempre com um clima deprimente. Entre um capítulo e outro há passagem do tempo que eles ficaram separados e depois voltaram a se comunicar. Pessoas Normais é assim; Marianne e Connell vivendo um dia atrás do outro, seus encontros e desencontros. Particularmente eu não sou muito fã de histórias com casais assim, mas até que nesse livro não fiquei à beira de um ataque de raiva, mesmo com a grande falta de um diálogo mais decisivo entre os dois.

Muitos acreditam que o final foi aberto, mas pra mim não foi bem assim. O que aconteceu ali foi o melhor para os dois e essa relação tóxica que eles vivem desde o início. (E não, ninguém comete suicídio)